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sexta-feira, 12 de agosto de 2016
A desimportância de dizer o que o outro não deseja ouvir
Dag Vulpi - 12 de agosto de 2016
É normal para o ser humano priorizar as informações que confirmem suas crenças ou hipóteses, independentemente de serem ou não verdadeiras. Como resultado, as pessoas colhem evidências e trazem informações da memória de forma seletiva, interpretando-as de maneira, às vezes, enviesada (tendenciosa). O efeito é mais forte no caso de assuntos que envolvem o emocional e nos casos em que se está lidando com opiniões fortemente arraigadas.
Inicialmente, meu propósito seria escrever um artigo que esclarecesse de uma vez por todas essa celeuma que envolve as urnas eletrônicas e as desconfianças de fraudes que as cercam todas as vezes que terminam as apurações dos votos e os vitoriosos não foram aqueles que alguns desejavam que o fossem. Os derrotados, invariavelmente, colocam sob suspeita a confiabilidade das desafortunadas urnas e fazem isso sem a menor desfaçatez, pois muitos dos agora derrotados e chorosos não questionaram a confiabilidade daquelas quando seus escolhidos saíram-se vitoriosos em pleitos passados.
Ao mesmo tempo em que digito, e por mais que me certifique de tratar das veras que envolvem o tema, prevejo que a estas alturas, mesmo ainda estando na apresentação do texto, alguns já estejam em desarmonia com o que assevero. Desarmonia essa que tentarei reverter, ao menos para aqueles que conferirem o texto na íntegra e com a atenção necessária. Certamente não haverá unanimidade, mas isso muito provavelmente se justificará pela inevitável interferência dos seus vieses de confirmação.
Pensando nessas hipóteses, me veio à memória duas situações que, apesar de distintas, sintetizam bem essa ideia.
A primeira lembrança que tive foi relacionada aos livros de cânticos que são entregues nas entradas das igrejas. Explico.
Quando vou à missa, percebo que na entrada da igreja ficam aquelas senhorinhas entregando aqueles livretos onde, com todo o esmero, elas os organizaram. Certamente, até se reuniram com antecedência para certificarem-se de que tudo sairá nos conformes. Pois bem, quando finalmente chega o momento para os livretos serem usados, que é quando o celebrante avisa, “abram o livro de cânticos na página tal". Naquele momento ocorre algo inusitado, ao menos para mim, pois a maioria das pessoas, por conhecerem os louvores, abre o livreto na página determinada, mas sequer lançam os olhos sobre sua letra, afinal, para quem sabe a letra o livreto faz-se desnecessário. Por outro lado, há também aqueles que não sabem a letra, que na maioria das vezes é o meu caso. Esse segundo grupo acaba por valer-se do tal livreto, porém, apesar de acompanhar a letra, não conseguem entoá-lo em harmonia com os demais. Resumindo, todo aquele trabalhão feito com tanto carinho por aquelas senhoras acaba sendo em vão.
Outra lembrança que me remete a esse tema é a de uma passagem que vivi logo no início de minha carreira profissional.
Naquela ocasião, eu tinha meus tenros 19 anos e havia sido contratado para trabalhar no hoje extinto Banco Nacional, banco esse que pertencia ao saudoso José de Magalhães Pinto. Muito bem, estando eu com apenas alguns meses de trabalho naquela instituição financeira, na função de escriturário, comecei a observar algumas deficiências que, como é normal em quase toda empresa, passavam despercebidas por aqueles que ali trabalhavam há muito tempo; esse é um "fenômeno" normal, pois é inerente ao ser humano se adequar ao meio em que vive. No entanto, como eu estava quase me formando em administração na época e ainda não havia me adequado completamente ao ambiente de trabalho, ao menos não com aquelas situações que iam ao desencontro do que aprendi na sala de aula, resolvi tentar implantar na prática do meu trabalho o conhecimento absorvido na teoria.
Naquela manhã, assim que o sr. Lourival Lourenço, que era nosso gerente de serviços, chegou, fui até sua sala e perguntei se ele teria alguns minutinhos para ouvir umas ideias que eu havia tido para a melhoria da nossa agência. Prontamente, ele disse que sim, pediu para que a dona Cristina trouxesse dois cafezinhos e mostrando-se muito receptivo, pediu para que eu falasse sobre elas. Aí, eu falei que faria um breve resumo de todas as ideias que eu tinha, e ele falou que estava ótimo para ele. Pois bem, falei superficialmente sobre as propostas, e ele mostrou-se muito interessado, extasiado, diria eu. Ao final, ele levantou-se, bateu nas minhas costas e disse: "Dagmar, você é um jovem de futuro nessa instituição. Por favor, passe essas ideias para o papel que eu as levarei para o nosso gerente geral, mas de antemão, posso garantir-lhe que, se não em sua totalidade, pelo menos 90% do que você sugeriu será implantado, não somente nessa, mas em todas as demais agências Brasil afora, pois essas são deficiências generalizadas dessa instituição".
Com o auxílio da minha inseparável Olivetti, cuidei de transferir para o papel todas as ideias de melhorias que eu considerava pertinentes a serem implantadas. Ao final, somaram-se seis o número de páginas digitadas.
No outro dia, fui até a sala do gerente e deixei sobre a mesa o envelope a ele endereçado. O dia foi passando, e o expediente chegava ao seu fim quando ele me chamou em sua sala. Cheio de otimismo, certo de que as minhas ideias seriam aproveitadas, entrei e fui convidado a sentar. Antecipei-me e perguntei o que ele havia achado das ideias. Ele respondeu que começou a ler, mas que seria mais produtivo caso eu fizesse um resumo das ideias. Saí dali às pressas, fui para a faculdade, chegando em casa por volta das 23:00 hs. Tomei um banho e, de volta à minha velha Olivetti, consegui reduzir de 6 para 3 o número de páginas. No outro dia, logo cedo, deixei sobre a mesa o envelope, agora com as ideias resumidas em apenas três páginas. Lá pelas tantas, o Sr. Lourenço me chamou até a sua sala, e lá fui eu todo animado. Chegando lá, ele pediu os tradicionais 2 cafezinhos para a dona Cristina, mandou que eu me sentasse e disse: "Dagmar, suas ideias são muito interessantes, mas eu preciso que você me faça um favor. Faça um novo resumo, mas coloque somente aquilo que conversamos no primeiro dia."
Resumindo, de que valeriam minhas ideias, ou melhor, do que valeu todo o meu trabalho em chegar da faculdade depois de um dia estressante e detalhar em seis folhas cada passo para a instalação de melhorias, se, no fundo, nada do que eu havia dito teve alguma importância para o gerente?
E assim também acontece por aqui. Estou convicto de que pouco, ou de nada adiantaria estender esse texto teorizando sobre a eficiência e segurança das urnas eletrônicas e tentando desconstruir um pensamento já arraigado no subconsciente de alguns, se para aqueles pouco importarão as minhas justificativas. Afinal, a ideia de que de fato houve fraude, mesmo que não tenha havido, é mais oportuna do que as possíveis provas que comprovem o contrário.
Nosso cérebro procura confirmar os desejos e crenças que temos o tempo todo. Assim, descartamos tudo que não tem a ver com nossas opiniões anteriores e nos atemos a sinais que confirmam o que acreditamos.
Viés de confirmação: Na verdade buscamos apenas confirmar as nossas certezas
A "Traidição" do poder
“Traidição” é um neologismo. O poder trai por tradição. Criei-o hoje, mesmo contra a opinião dos amantes do vernáculo, porque entendo que a língua portuguesa deve evoluir, porque isso independe de nossa vontade. Se olharmos os textos originais de Camões ao escrever os Lusíadas, vemos que de lá para cá, a cada século, uma versão diferente da língua. Os puristas que me perdoem, mas a língua e a humanidade evoluem independentemente de nossas particulares vontades.
Então, certo dia, vencido o regime comunista, porque não entenderam seus dirigentes os manifestos nem as doutrinas nem as filosofias de Friedrich Engels e Carl Marx, sobrou apenas o capital como dono absoluto de todas as filosofias, de toda a verdade da humanidade. Finalmente, o capital vencera. O mundo dos banqueiros iniciado na Flandres renascentista com as descobertas marítimas da América do Norte e do Sul, para financiar empreendimentos marítimos, agora estava dona do poder. Os Bancos mandavam por que financiavam, elegiam vereadores, deputados, vices e presidentes, prefeitos, sustentavam partidos políticos, recebiam em suas contas os lucros gordos do tráfico de drogas. A juventude, por falta de visão de futuro seguro onde pudesse sobreviver, entregava-se á falsa ilusão de que as drogas eram a alegria do momento, o relaxamento das duras dificuldades da vida, de sua existência. O tráfico começou também a eleger e a depositar seus lucros em Bancos. A moral relaxou e bandidos estão cada vez mais livres, mais públicos, constroem tudo destruindo o futuro da juventude.
Recentemente, os governos começaram a dar festas públicas pagas com dinheiros públicos, a dar bolsas família que não representam quase nada para o nada que as famílias ganham como trabalhadoras para industrias milionárias que não dividem seus lucros com eles. Os Bancos, inventando uma crise em 2008, baseados na péssima administração deficiente de cinco desses Bancos, exigiram o pagamento da dívida de ter gasto em eleições, dos membros eleitos, e os governos lhes deram os dinheiros públicos arrecadados em multas, impostos, suor e sangue da classe trabalhadora popular...
A informação, a desinformação, e a contra- informação, tal como durante a guerra fria entre comunistas devassos e capitalistas ambiciosos, corruptos e corruptores, espalha-se pela humanidade confundindo os deslumbrados e as deslumbradas a quem ainda não tocou a sombra amarga e penetrante das lâminas da fome que rasgam intestinos e causam a cizânia entre as famílias. Quando despertarem estes, juntar-se-ão aos milhões de outros que bradam aos céus a iniquidade e a ignorância.
Por esses tempos, já terei ido... partido, sumido e ninguém notará a minha falta. Deixo apenas o registro. Quem sabe alguém entende o que escrevi?
Rui Rodrigues postado originalmente neste blog em 18/08/2011
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